terça-feira, 17 de setembro de 2024

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 3

Assim que as filmagens de "Vidas Amargas" iam avançando, Dean e Kazan começaram a ter atritos. O que começou com uma simbiose de ideias interessantes para o filme logo desandaram para pequenos mal entendidos que cresceram ao ponto de Kazan falar mal do ator para a imprensa. Para o diretor as filmagens começaram muito bem, mas conforme foram avançando surgiram problemas envolvendo James Dean com praticamente todos os membros do elenco.

Durante uma cena com o ator Raymond Massey (que interpretava seu pai no filme) Dean começou a recitar pequenas obscenidades e palavras de baixo nível para seu colega, enquanto ele tentava se concentrar em declamar seu rebuscado texto. Para Dean tudo não passou de uma brincadeira, mas para Massey aquilo era o ápice da falta de profissionalismo. Com sua estrela Julie Harris as coisas não fluíram melhor. Dean começou a debochar de seu jeito tímido e calado. Julie tentava levar na brincadeira, mas depois aquilo começou a aborrecer a tal ponto que Kazan disse literalmente que "ela era realmente uma santa em aguentar aquele James Dean no set sem perder a paciência"!

Depois de morar um tempo com Richard Davalos em um apartamento cedido pela Warner, James Dean resolveu tomar uma decisão radical. Largou o apartamento, pegou sua velha mochila com os poucos pertences pessoais e resolveu que iria morar dentro de seu camarim no estúdio. Kazan achou aquilo uma maluquice, mas Dean explicou que o camarim no final das contas era mais espaçoso que seu pequeno quarto e além do mais o deixaria mais perto do trabalho (na verdade o deixaria sempre "dentro" de seu trabalho). Os produtores não fizeram questão, mas lhe informaram que assim que as filmagens terminassem ele teria que sair de lá, pois outro filme seria feito e os camarins seriam disponibilizados para o elenco que chegaria para trabalhar no novo filme. Dean deu de ombros, afinal de contas por mais estranho que fosse seu comportamento ele certamente não estaria disposto a viver indefinidamente dentro de um camarim de estúdio de cinema.

Enquanto estava de folga das filmagens, James Dean resolveu visitar os sets de outros filmes, entre eles "O Cálice Sagrado" que estava sendo filmado perto de seu camarim. Foi lá, visitando Paul Newman, que Dean viu pela primeira vez a atriz Pier Angeli. Foi amor à primeira vista! Embora Dean tivesse tido vários casos amorosos com homens em sua vida, ele tinha uma  certa tendência em alimentar paixões amorosas em relação a garotas que conhecia e admirava. Angeli era uma delas. De família católica italiana tradicional, a atriz era o extremo oposto de James Dean, na época considerado um ator largado de Nova Iorque, um sujeito conhecido por sua rebeldia e comportamento fora dos padrões. De qualquer maneira, como diz o ditado, os opostos se atraem. E assim James Dean ficou gamado por ela! Nem bem a viu pela primeira vez comentou depois com Paul Newman: "Puxa, ela não parece ser desse mundo!". Discretamente James Dean convidou Angeli para se sentar com ele no refeitório da Warner durante o almoço. Não demorou muito e surgiram de mãos dadas, confirmando que estavam namorando. A mãe de Pier Angeli não gostou nada de saber da novidade por causa da fama de rebelde e selvagem do ator e tentou acabar com o precoce namoro, mas foi em vão.

Enquanto isso as filmagens de "Vidas Amargas" iam chegando ao fim. Elia Kazan desabafou e disse que Dean não se deu bem com ninguém, nem com o elenco e nem com a equipe técnica. Também reclamou de suas atitudes insuportáveis, como por exemplo, sempre tentar estragar as cenas de Julie Harris. Outro aspecto que incomodou Kazan foi a forma como Dean lidava com o trabalho pois na opinião do diretor "Ele perdia muito tempo tirando fotos de si mesmo". Um egocêntrico? Para Kazan não restava a menor dúvida. Durante as filmagens, Dean resolveu comprar uma nova moto, da marca Triumph, ideal para corridas. Assim que descobriu isso Kazan chamou Dean de lado e lhe avisou: "Não tenho nada a ver com sua vida pessoal, mas enquanto o filme não ficar pronto você não participará de nenhuma corrida". Dean contestou e disse que nunca se machucara antes! Mesmo assim, como ainda era seu primeiro filme, resolveu acatar as ordens do cineasta. Na festa final de confraternização das filmagens James Dean não apareceu. Preferiu pegar sua mochila, colocar nas costas e ir embora de moto até o litoral. Haveria uma corrida para amadores e Dean não queria perder a chance de correr com sua possante moto pela primeira vez.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Assim Caminha a Humanidade

"Giant" entrou para a história do cinema por vários motivos. O mais lembrado deles é o fato de ter sido o último filme de James Dean. Poucos dias após o fim das filmagens o ator resolveu participar de uma corrida e na viagem até lá morreu em um trágico acidente com apenas 24 anos. Outro ponto a se destacar é que esse é considerado até hoje o melhor filme de George Stevens. Diretor habilidoso, conseguia ótimos resultados por causa de um método inovador de trabalho. Ele utilizava várias câmeras, todas em ângulos diferentes e depois passava meses trancado no estúdio assistindo a cada registro, a cada tomada de cena. Só depois de montar o filme em sua própria mente é que ele finalmente dava o corte final em suas obras. Por essa razão "Assim Caminha a Humanidade" é uma verdadeira obra prima, uma ode ao Texas que até hoje impressiona por sua força e atemporalidade. Por fim, e não menos relevante, "Giant" é sempre lembrado pelas ótimas atuações do casal Rock Hudson e Elizabeth Taylor. Rock aliás considerado até aquele momento um mero galã de Hollywood conseguiu sua primeira e única indicação ao Oscar. O reconhecimento da Academia foi mais do que merecido pois o trabalho de Rock é realmente primoroso, onde ele interpreta um personagem em vários momentos de sua vida, desde a juventude até sua velhice. Permeando tudo temos os vastos campos do Texas. A própria imagem da casa de fazenda ao longe, sem nada por perto reflete bem a grandeza daquela região, onde grandes fortunas foram feitas praticamente da noite para o dia. O Ouro negro, como era chamado o Petróleo, fez a riqueza de muitas famílias texanas. E é justamente sobre isso que seu enredo enfoca.

Em sua autobiografia Rock Hudson relembra como foi tratado por George Stevens. O diretor lhe colocou a par de todos os aspectos da produção e chegou a dizer a ele que escolhesse a cor da casa de seu personagem no filme. Nunca um diretor havia feito algo assim com ele. Isso demonstrava o modo de trabalhar de Stevens, ele queria que todos se sentissem parte do processo de realização do filme. Hudson afirmou em seu livro que nunca vira nada igual antes. Se o diretor queria aproximação completa entre ele e o elenco o mesmo não se podia dizer dos dois atores principais. Desde o começo Rock Hudson e James Dean não se deram bem. Dean vinha de Nova Iorque e procurava ir fundo em suas interpretações. Hudson foi formado na Universal, dentro do Star System, e estava pouco preocupado com maneirismos do Actors Studio. Assim travou-se uma verdadeira batalha nas cenas, dois atores com formação completamente diferente que não se gostavam muito pessoalmente. Dean achava Rock um mero galã e um "poste" - apelido que usou por causa da grande altura do ator. Como ele era baixinho, Dean acabou sentindo-se intimidado por Rock. Já Hudson achava Dean esquisito, complicado de se lidar. Curiosamente apesar de ambos não se darem bem, os dois se tornaram grandes amigos da estrela Elizabeth Taylor. Para Dean, Liz era como uma irmã que nunca teve. Amorosa e simpática procurava entender o rebelde ator mesmo quando ele nitidamente se comportava mal com os outros. Já em relação a Rock ela se comportava como uma amiga de farras. Ambos tomaram grandes porres juntos e inventaram o Martini de chocolate, uma combinação explosiva que exigia um intestino de aço de quem ousasse beber aquela mistureba toda. Elizabeth Taylor virou amiga até os últimos dias de vida de Rock Hudson e quando esse morreu de AIDS em 1985 ela fundou uma instituição de apoio a pesquisas para combater a doença.

A edição do filme foi complicada e demorada. Havia muito material gravado, por diversas câmeras e assim George Stevens passou longos meses montando tudo aquilo. Quando o filme finalmente ficou pronto e foi lançado James Dean já havia morrido há mais de um ano. Como tinha se tornado um mito eterno da sétima arte com sua morte suas jovens fãs correram para os cinemas para conferir o último trabalho do encucado ator. O que viram foi uma produção completamente diferente de "Juventude Transviada". Enquanto aquele era uma crônica sobre a juventude e seus problemas, "Giant" era monumental, de enorme duração e com ares de cinema épico. A crítica se dividiu mas de forma em geral todos concordaram que estavam na presença de um dos maiores filmes já feitos por Hollywood. Um dos pontos mais criticados foi justamente a maquiagem realizada nos atores nas cenas em que eles surgem envelhecidos. Para Rock Hudson e Elizabeth Taylor as perucas grisalhas realmente não caíram bem. De fato apenas James Dean surge bem nessas cenas, o que não deixa de ser uma grande ironia pois ele nunca teria a chance de envelhecer como seu personagem, que aparece bêbado e caindo em um vexame público. Aliás muitas das falas de Dean ficaram ruins nesse momento final e o diretor George Stevens, sem opção, teve que contratar o ator Nick Adams para dublar certas partes do texto do ator falecido. Assim em conclusão podemos dizer que "Assim Caminha a Humanidade" não é apenas uma obra de cinema fenomenal mas também um marco histórico do cinema americano. Um filme tão grande quanto o Texas. Um momento maravilhoso do cinema americano que todos os cinéfilos devem assistir. 

Assim Caminha a Humanidade (Giant, Estados Unidos, 1956) Direção: George Stevens / Roteiro: Fred Guiol, Ivan Moffat baseados na obra de Edna Ferber / Elenco: Elizabeth Taylor, Rock Hudson, James Dean, Carroll Baker, Mercedes McCambridge, Jane Withers, Chill Wills, Sal Mineo, Dennis Hopper / Sinopse: "Assim Caminha a Humanidade" conta a estória do rico fazendeiro Bick Benedict (Rock Hudson) . Após cortejar e se casar com a mimada Leslie (Elizabeth Taylor) ele retorna para sua imensa casa de fazenda bem no meio do grandioso estado americano do Texas. Lá tem que lidar com todos os problemas de sua propriedade, inclusive seus empregados. Entre eles se destaca o estranho e taciturno Jett Rink (James Dean) que parece nutrir uma indisfarçável paixão pela esposa de seu patrão.

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de setembro de 2024

Elizabeth Taylor

Elizabeth Taylor nasceu em 27 de fevereiro de 1932. Portanto se estivesse viva estaria completando 87 anos de idade nessa data. A imprensa internacional de uma maneira em geral lembrou da atriz. Claro, os jornalistas mais jovens possuem apenas uma pálida ideia de quem foi a estrela, sua importância em Hollywood. Por isso o exagero sensacionalista de inúmeras matérias, mostrando apenas o lado mais celebridade da atriz.

Assim sua filmografia foi deixada de lado. Ao invés disso os textos reforçam seus inúmeros casamentos, as brigas públicas com os maridos, as doenças que enfrentou, os escândalos e, obviamente, as joias que ela tinha. Essas aliás valem alguns milhões de dólares. Além de serem valiosas por si mesmos ainda possuem um plus em sua valoração, pois afinal pertenceram a essa lenda do cinema.

De minha parte vale apenas a lembrança desse dia. A atriz tinha um grande talento, não aprendido em escolas de dramaturgia, mas sim na prática, nos sets de filmagens, afinal Liz Taylor atuava desde quando era apenas uma criança. Ela cresceu na frente das câmeras e teve que aprender tudo ali, na hora H, quando o diretor gritava no microfone "Ação". Se isso não foi talento nato, sinceramente não saberia dizer o que seria. Assim deixo aqui minhas felicitações para a grande diva. Obrigado por ter feito tantos filmes maravilhosos!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 4

O último ano de Marilyn Monroe - O último ano da vida de Marilyn Monroe foi bem turbulento. Ela resolveu se livrar de coisas e pessoas que não estavam lhe fazendo bem. Por recomendação de seu terapeuta Marilyn resolveu que pela primeira vez em sua vida iria comprar uma casa própria. A atriz viveu toda a sua vida alugando e sendo despejada de apartamentos de Los Angeles e seu psicólogo lhe disse que isso criou nela uma espécie de trauma, onde seu subconsciente lhe passava a mensagem subliminar de que ela na verdade não pertencia a lugar nenhum e nem tinha raízes seguras onde se fixar. Marilyn gostou da explicação e comprou uma bela casa nos arredores da cidade - nada luxuoso ou extravagante, mas acima de tudo aconchegante. Conformou confessou a um repórter adorou a sensação de ser dona de sua própria casa, onde poderia ficar como bem entendesse, totalmente à vontade.

Como o casamento também vinha de mal a pior Marilyn resolveu despachar seu marido, o escritor Arthur Miller. Marilyn havia se apaixonado por ele principalmente por ser uma pessoa culta que passava uma imagem paterna para ela. Na vida a dois Marilyn porém se decepcionou completamente com ele. Miller caiu em um ostracismo incrível na carreira onde não produzia ou escrevia mais nada que fosse relevante ou elogiado. Além disso se mostrou totalmente submisso a esposa, carregando suas malas para cima e para baixo. Nos últimos meses Miller havia virado praticamente um empregado de Marilyn e isso a deixou completamente decepcionada com ele. Marilyn queria um homem de verdade ao seu lado, não um capacho, um verme que dizia sim a praticamente tudo o que ele queria ou mandava. Não demorou muito e Marilyn o mandou embora de sua vida, dizendo que além de ser um banana ele havia se revelado um tremendo de um chato!

Marilyn na verdade estava mirando nos irmãos Kennedy. Seria uma reviravolta e tanto em sua vida se ela conseguisse conquistar Bob ou então tivesse a chance de emplacar um romance com o próprio presidente dos Estados Unidos, JFK! Não seria o máximo se tornar a primeira dama do país depois de brilhar por tantos anos no mundo do cinema? Isso tudo porém não passava de um delírio de Marilyn já que nenhum deles estava disposto a colocar a carreira política em jogo por causa de Marilyn e suas loucuras. De qualquer forma Marilyn estava pelo menos respirando ares novos em sua vida. Uma sensação de mudança a tinha deixado de melhor humor a tal ponto que convidou o fotógrafo George Burns para tirar algumas fotos de seu novo lar para a capa de uma revista de decoração. A foto acima, por exemplo, foi tirada apenas seis semanas antes de sua morte.

Nas fotos Marilyn surgia feliz e sorridente porém os velhos fantasmas do passado ainda a incomodavam. Marilyn tinha dois grandes receios na vida, o primeiro era terminar louca como sua mãe, internada em uma instituição psiquiátrica. Muitos parentes de Marilyn tinham desenvolvido problemas mentais no passado de sua família e ela tinha pavor de também começar a apresentar sinais de insanidade. O segundo grande medo de sua vida era terminar sozinha seus dias, sem marido ou filhos. Por ter feito muitos abortos na juventude, Marilyn sabia que agora com mais de 30 anos o sonho da maternidade ficava cada vez mais distante. Isso a deixava deprimida, principalmente nas noites solitárias. E foi justamente numa noite dessas, na privacidade de seu quarto, ouvindo um disco de Frank Sinatra, que ela finalmente encontraria a paz que tanto desejava.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O Pecado Mora ao Lado

Título no Brasil: O Pecado Mora ao Lado
Título Original: The Seven Year Itch
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Billy Wilder, baseado na peça de George Axeroid
Elenco: Marilyn Monroe, Tom Ewell, Evelyn Keys, Sonny Tuftis, Robert Strauss, Oskar Homolka

Sinopse:
Richard Sherman (Tom Ewell) é um maridão que fica sozinho em seu apartamento após sua esposa e filho irem passar as férias de verão fora de Nova Iorque. Adorando sua provisória liberdade ele começa a soltar a imaginação. A nova vizinha do andar de cima, uma linda e sensual loira (Marilyn Monroe), atiça ainda mais seus pensamentos eróticos. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator (Tom Ewell).

Comentários:
Esse pode ser considerado tranquilamente o filme mais conhecido de Marilyn Monroe. A imagem dela nesse filme, o seu figurino, a cena da saias ao vento, tudo entrou definitivamente dentro da cultura pop. Tanto isso é verdade que quando se lembra de Marilyn Monroe se lembra imediatamente da sua imagem nesse filme. É o auge de popularidade da atriz em sua carreira no cinema. E o curioso de tudo é que sua personagem sequer tinha nome, era apenas identificada no roteiro como "The Girl" (a garota). Isso porque ela representou mesmo um símbolo de sensualidade que estaria na imaginação daquele homem casado já há alguns anos, entediado totalmente com o casamento, que conhece a loira bonita e tem fantasias sobre ela, como se fosse ter um caso furtivo com a gostosona que mora ao lado. O roteiro (e a peça original) aliás foi escrito em cima de um artigo de um psicólogo que afirmava que quando um casamento completava sete anos, era sinal de que uma crise conjugal estaria para chegar. Esse filme fez muito sucesso de bilheteria, mas também trouxe problemas pessoais para Marilyn. A cena das saias levantadas, com as calcinhas à mostra, despertou a fúria ciumenta de Joe DiMaggio. Mal sabia ele que aquela seria a cena mais famosa e lembrada de toda a filmografia de La Monroe.

Pablo Aluísio.