quinta-feira, 25 de abril de 2024

Crepúsculo dos Deuses

Denominar “Crepúsculo dos Deuses” como uma das maiores obras cinematográficas de todos os tempos é desnecessário. Poucas vezes foi realizado um filme tão humano, tão cruelmente verdadeiro como esse. Ao mostrar uma diva envelhecida, uma antiga estrela do passado, há muito esquecida do grande público, o filme na realidade cria um estudo da alma humana poucas vezes vista nas telas. Em termos de melancolia e nostalgia, essa é uma obra insuperável. A personagem Norma Desmond (Gloria Swanson) não é apenas uma atriz que perdeu sua estrela e sua fama, mas também uma pessoa psicologicamente em ruínas que tenta de todas as formas se agarrar em um passado glorioso para suportar viver no presente. 

Embora muitas pessoas não parem para pensar sobre isso, a trama de “Crepúsculo dos Deuses” é mais comum na vida real do que se imagina. Não são poucos os artistas que presenciam o fim de suas carreiras, muitas vezes prematuramente. Astros e estrelas que brilharam por momentos fugazes e após o sucesso inicial simplesmente deixam de atrair o público e somem dos holofotes, sendo descartados pelos grandes estúdios. Poucos são os grandes mitos que resistem ao passar do tempo. Norma é de certa forma um retrato em microscópio da realidade de centenas e centenas de artistas que não conseguem superar a terrível passagem do tempo. Vivendo de suas imagens joviais e trabalhando em um meio que valoriza acima de tudo a beleza e a juventude, muitos são simplesmente descartados após atingirem uma certa idade.

Assim não serão poucos os artistas que irão se identificar com Norma, uma mulher que vive do passado, das fotos amareladas pelos anos e das recordações do tempo em que era de fato um mito em celulóide. Pensando em delírio que ainda é uma estrela, ignora o fato que o tempo passou e não há mais retorno possível aos seus anos de glória, das ribaldas, da aclamação dos seus fãs que lotavam os cinemas para assistir seus filmes. O brilho, a fama, o sucesso e a riqueza ficaram em um passado distante. O filme é realmente magistral. Há uma narração em off do personagem de William Holden que é um dos textos mais bem escritos da história do cinema americano. Misturando ironia com melancolia latente, ele nos apresenta sua história, contando em detalhes como acabou conhecendo Norma e seu estranho mundo enclausurado. Vivendo em uma mansão decadente, literalmente caindo aos pedaços, ao lado do mordomo fiel Max (interpretado pelo cineasta Erich von Stroheim com raro brilhantismo), ela ainda pensa que é uma estrela no mundo fútil das celebridades de Hollywood. O fato porém é que a passagem do cinema mudo para o cinema sonoro simplesmente acabou com sua carreira.

Suas opiniões sobre a irrelevância do cinema sonoro inclusive me lembraram do próprio Chaplin, que também em inúmeras vezes atacou a nova tecnologia. A atriz Gloria Swanson interpretando Norma é uma força da natureza. Impressionante a carga emocional que ela traz para seu papel. O curioso é que ela própria foi uma diva do cinema mudo, tal como sua personagem. Possessa e imersa completamente em sua interpretação, ficamos não menos do que impressionados pela força de seu talento. William Holden não fica atrás. Levemente cínico e incomodado com sua situação pessoal, ele esbanja aquele tipo de ironia que nasce da decepção consigo mesmo. Para o fã de cinema, o filme “Crepúsculo dos Deuses” traz ainda um verdadeiro presente. Em cena vemos o grande Cecil B. DeMille interpretando a si mesmo dentro dos estúdios da Paramount. DeMille foi um dos maiores nomes da indústria e vê-lo ali representando a si próprio é um deleite para qualquer amante da história da sétima arte. Outra presença marcante é a do ícone do humor Buster Keaton em uma participação particularmente melancólica. Sério e com olhar aterrorizado, ele participa de um estranho jogo de cartas com a diva em sua mansão, a mesma que foi usada como cenário de outro grande clássico, “Juventude Transviada” com James Dean.

Em conclusão, “Crepúsculo dos Deuses” merece toda o status cult que possui, todo o prestígio de grande clássico do cinema. É a obra prima definitiva do genial diretor e roteirista Billy Wilder, um mestre da era de ouro de Hollywood. É um desses filmes atemporais, que não envelhecem nunca e continuam tão maravilhosos como em seu lançamento. Delírios, traições, insanidade, compaixão e melancolia em um roteiro muito bem escrito, primoroso mesmo. Esse quadro completo compõe esse que é seguramente uma das maiores obras primas do cinema americano de todos os tempos. Simplesmente essencial.

Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, Estados Unidos, 1950) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Charles Brackett, Billy Wilder, DM Marshman Jr. / Elenco: William Holden, Gloria Swanson, Erich von Stroheim, Nancy Olson, Cecil B. DeMille, Hedda Hopper, Buster Keaton  / Sinopse:  Norma Desmond (Gloria Swanson) é uma diva da era do cinema mudo que mora em uma grande mansão na Sunset Boulevard cercada apenas de seu mordomo fiel Max (Erich Von Stroheim). Por um acaso do destino, o roteirista desempregado Joe Gillis (William Holden) acaba indo parar na mansão de Norma após tentar fugir de credores do banco onde fez um empréstimo. Lá conhece a velha estrela e seu estranho mundo particular construído sobre velhas lembranças de um passado glorioso que não existe. Ela ainda pensa ser uma superstar no céu de Hollywood. Doce ilusão. Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro, Trilha Sonora e Direção de Arte. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Diretor (Billy Wilder), Atriz (Gloria Swanson) e Trilha Sonora.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Trapézio

Em 1956 Tony Curtis era apenas mais um galã de segunda linha que não conseguia emplacar em bons papéis. Geralmente estrelava os chamados filmes B das mil e uma noites dos estúdios Universal - filmes de capa e espada que eram feitos especialmente para as matinês dos cinemas. Já estava com oito anos de carreira nas costas quando a primeira oportunidade real bateu à sua porta. O ator Burt Lancaster estava procurando um partner para filmar ao seu lado uma adaptação da novela Trapézio. O filme contaria a estória de dois trapezistas em Paris que tentam executar o maior de todos os números dessa arte: o saldo triplo mortal. Também procurava uma atriz europeia que funcionasse como pivô do triângulo amoroso que iria ser mostrado nas telas.

O interesse de Lancaster sobre esse filme era fácil de entender. Ele começou sua carreira no circo (a sua primeira esposa era trapezista) e apesar de ter alcançado o sucesso como ator jamais esqueceu o período em que viveu no mundo circense. Após alguns testes Burt sugeriu ao diretor Carol Reed que contratasse Tony Curtis. Ele tinha os atributos certos para o papel. Além de ser jovem tinha também habilidades atléticas que iram ajudar muito nas filmagens. Como estrelava vários filmes de capa e espada Tony foi logo considerado ágil o suficiente para se sair bem nas cenas de picadeiro. Já a escolhida para o principal papel feminino foi a atriz italiana Gina Lollobrigida. Embora tivesse uma extensa filmografia em seu país estrelaria pela primeira vez uma produção norte-americana.

O filme Trapézio acabou se tornando um grande sucesso de bilheteria. Também pudera, tinha todos os ingredientes para se tornar um êxito nos anos 50: um cenário exótico, uma beldade estrangeira, um romance à flor da pele, um astro de primeira linha e um coadjuvante que despontava para o estrelado. Pela primeira vez em sua carreira Curtis finalmente era levado à sério. Seu papel nem era tão destacado mas ele fez o suficiente para não fazer feio. O argumento do filme também ajudava já que não se tratava de um dramalhão onde fosse exigido muito dos atores, no fundo era um passatempo leve, com boas cenas coreografadas de trapézio, filmadas com profissionais do ramo (muito embora os atores também tenham filmado cenas menos perigosas). A parceria com Burt Lancaster ainda renderia mais um bom filme a Tony Curtis no ano seguinte: A Embriaguez do Sucesso, onde seria extremamente bem elogiado pela crítica. Com tudo isso hoje Tony pode dizer que esse filme foi na realidade o verdadeiro trampolim para os seus melhores anos, que iriam atravessar o restante da década de 50 e 60, graças especialmente ao grande astro e estrela de primeira grandeza na constelação de Hollywood, Burt Lancaster.

Trapézio (Trapeze, Estados Unidos, 1956) Direção: Carol Reed / Roteiro: Liam O'Brien, baseado no romance escrito por Max Catto / Elenco: Burt Lancaster, Tony Curtis, Gina Lollobrigida, Katy Jurado, Thomas Gomez / Sinopse: Trapezistas em Paris tentam criar um número inovador que mudará a história do circo.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Inimigo Público

Título no Brasil: Inimigo Público
Título Original: The Public Enemy
Ano de Produção: 1931
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: William A. Wellman
Roteiro: Kubec Glasmon, John Bright
Elenco: James Cagney, Jean Harlow, Edward Woods
  
Sinopse:
Tom Powers (James Cagney) quer vencer na vida e não importa como. Desde a infância ele começa a realizar pequenos furtos e crimes até que se torna um dos gangsters mais violentos e brutais de sua cidade. Com a proibição da venda de álcool em bares pelo país ele começa a transportar a bebida de forma clandestina, como contrabando, o que o torna um homem rico e poderoso dentro do mundo do crime, mas será mesmo que essa tentativa de subir na vida a todo custo dará realmente certo? Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original (John Bright e Kubec Glasmon).

Comentários:
Se não for o mais clássico de todos os filmes de gangsters da história do cinema americano, certamente é um dos cinco mais importantes. Não precisa ir muito longe para entender que se trata de uma versão romanceada do grande gangster da época, Al Capone. Dizem inclusive que ele assistiu ao filme ao lado de seus capangas em Chicago e gostou bastante do resultado. Semelhanças biográficas não faltam. Assim como Capone o personagem Tom Powers interpretado por James Cagney, é um bandidinho que começa por baixo, roubando relógios baratos pelas ruas. Depois conforme o tempo vai passando ele vai subindo dentro da hierarquia do mundo do crime até que a sorte grande lhe bate finalmente a porta. A Lei Seca entra em vigor, proibindo a comercialização de bebidas alcoólicas e isso abre um mercado lucrativo para todos os bandidos da cidade que começam a ganhar muito dinheiro com o contrabando de bebidas. Powers e seu fiel e amigo comparsa Matt Doyle (Edward Woods) ganham assim muito dinheiro, a ponto de desfilarem com carrões pela cidade com loiras exuberantes a tiracolo. A namorada de Tom Powers, Gwen Allen, é interpretada pelo mito Jean Harlow, uma atriz que iria influenciar decisivamente na carreira de Marilyn Monroe algumas décadas depois. Ambas eram loiras platinadas, sensuais e que se envolviam com os homens errados. Também morreram jovens, no auge do sucesso. 

Outro ponto forte do filme vem de seu roteiro que explora muito bem a rivalidade que nasce entre Powers e seu irmão Mike (Donald Cook). Esse quer vencer na vida de forma honesta, estudando de noite e trabalhando de dia. Na visão de Tom porém ele não passa de um "otário" (como convém aos espertalhões em geral). Só que Tom não contava que iria acabar pagando muito caro por tentar subir na vida de todas as maneiras possíveis. Por fim, e não menos importante, devemos chamar atenção para uma cena especial quando James Cagney esfrega uma laranja na cara de sua amante durante um café da manhã luxuoso no hotel mais caro da cidade. Essa cena foi considerada extremamente perturbadora na década de 1930 e por causa da reação negativa em sessões testes a Warner decidiu colocar um prólogo moralista afirmando que o filme não tinha a proposta de glamorizar a vida dos criminosos, mas sim servir como um alerta, um aviso, com o que havia de errado na sociedade. Por essa razão temos um final tão significativo nesse aspecto, algo do tipo "Não tente seguir os passos do criminoso retratado nesse filme pois definitivamente o crime não compensa". Bom, pelo menos para James Cagney o crime compensou e muito, pelo menos nas telas de cinema, pois depois desse filme ele virou um mito na era de ouro de Hollywood. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Charles Chaplin - Hollywood Boulevard - Parte 2

Chaplin era um trabalhador compulsivo. Também era muito centralizador. Em determinado momento da carreira ele chegou na conclusão de que não iria precisar de mais ninguém, apenas de um elenco coadjuvante para aparecer ao seu lado nos filmes. Assim Chaplin começou a dirigir, roteirizar e até mesmo a compor as trilhas sonoras de seus filmes. Fazia praticamente tudo no set de filmagem.

Mesmo quando estava em férias Chaplin não parava de pensar em cinema. Ele estava sempre com uma agenda à mão onde fazia anotações, esboços para os roteiros de suas comédias. Chaplin sabia que o cotidiano era um ótimo lugar para arranjar ideias. Assim quando estava na praia, em férias, e viu ao longe um navio cheio de imigrantes decidiu que iria escrever um roteiro onde Carlitos era também um imigrante chegando na América, passando por apuros no navio de passageiros.

Ele também passou a se dedicar à música. Chaplin queria ser um artista completo e em sua opinião jamais chegaria a esse nível de perfeição se não se tornasse também um compositor. Em poucos anos se tornou bastante talentoso, compondo inclusive algumas canções que se tornaram obras primas como a bela "Smile". Ser diretor, roteirista e compositor não eram apenas as qualidades de Chaplin no cinema. Ele também era cenógrafo, criando os cenários de seus filmes, figurinista, pensando em cada roupa de cada coadjuvante e extra de seus filmes e obviamente também produtor pois ele produzia muitas vezes com seu próprio dinheiro os filmes em que atuava.

Com o controle todo em suas mãos Chaplin também conseguiu formar seu próprio estúdio de cinema. Ao lado de outros atores e atrizes ele fundou a United Artists (Artistas Unidos), um estúdio onde os artistas seriam os donos, os seus próprios patrões. A ideia deu muito certo e em pouco tempo o estúdio começou a colecionar prêmios e sucessos de bilheteria. Alguns anos depois Chaplin decidiu que era hora de transformar a empresa em uma Sociedade Anônima. A venda de ações nos anos 60 o deixaria imensamente rico, milionário. Pois é, além de grande artista Chaplin sabia ser também um capitalista muito bem sucedido. 

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Vida Privada

Título no Brasil: Vida Privada
Título Original: Vie privée
Ano de Produção: 1962
País: França, Itália
Estúdio: CCM, CIPRA
Direção: Louis Malle
Roteiro: Jean-Paul Rappeneau, Louis Malle
Elenco: Brigitte Bardot, Marcello Mastroianni, Nicolas Bataille
  
Sinopse:
Jill (Brigitte Bardot) é uma jovem dondoca que mora com a mãe em uma bela propriedade em Genebra, na Suíça. Sua vida despreocupada e sem maiores problemas vira de cabeça para baixo quando começa a perceber que está ficando apaixonada pelo novo namorado de sua mãe, o editor de revistas de moda Fabio Rinaldi (Marcello Mastroianni). Tentando superar essa paixão Jill decide se mudar para Paris para viver como modelo. Seu êxito no mundo da moda acaba abrindo as portas para a carreira de atriz de cinema. Em pouco tempo ela acaba virando um mito de popularidade da indústria cinematográfica francesa. O sucesso  porém não ameniza o fato de ainda sentir-se muito atraída por Rinaldi, uma situação que a acaba jogando em uma terrível crise existencial e emocional.

Comentários:
Brigitte Bardot foi um dos maiores símbolos sexuais do cinema internacional na década de 60. Considerada uma das atrizes mais belas da história ela, assim como a personagem que interpreta nesse filme, acabou virando um ícone de seu tempo. O cineasta Louis Malle acabou assim escrevendo um roteiro que era de certa maneira uma biografia romanceada da estrela. Uma maneira de entender seu sucesso e fama incomparáveis. Tirando a parte em que Jill se apaixona perdidamente por um homem mais velho que se relaciona com sua mãe, todo o resto do filme mais parece ser um documentário sobre a vida de Bardot naquela época. Inclusive Malle resolveu adotar um certo tom documental em seu filme, fazendo com que BB passeasse pelas ruas de Paris para filmar a reação das pessoas ao encontrá-la, da forma mais espontânea possível. Assim tudo o que se vê nessas cenas é a pura realidade, onde a estrela caminha pelos cartões postais da cidade-luz ao mesmo tempo em que atende a centenas de pedidos de autógrafos dos fãs, que obviamente vão ficando histéricos com a oportunidade de a conhecer pessoalmente. Para os jovens de hoje em dia a linguagem de "Vie privée" pode soar um pouco fora dos padrões, nada convencional. Malle optou por grandes saltos narrativos e cortes que parecem abruptos na edição. Não, não é um defeito do filme, mas sim uma característica da linguagem narrativa daquela época. Dessa forma deixo a dica para conhecer esse pouco comentado filme de Bardot, onde ela desfila toda aquela beleza deslumbrante de sua juventude. Um filme cult e visualmente muito agradável.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

O Lobo do Mar

Título no Brasil: O Lobo do Mar
Título Original: The Sea Wolf
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Michael Curtiz
Roteiro: Jack London, Robert Rossen
Elenco: Edward G. Robinson, Ida Lupino, John Garfield

Sinopse:
'Wolf' Larsen (Edward G. Robinson) é um veterano capitão naval que precisa lidar com uma tripulação que não consegue ser tão disciplinada e organizada  quanto ele queria. O choque de opiniões e visões acaba transformando sua embarcação em um barril de pólvora prestes a explodir. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhores Efeitos Especiais (Byron Haskin e Nathan Levinson).

Comentários:
Edward G. Robinson foi um astro improvável em Hollywood. Cara de poucos amigos ele se tornou célebre por causa dos filmes de gangsters que estrelou. Aqui ele embarca em um gênero um pouco diferente, um filme que mescla aventura e características de cinema noir que o tornam bem diferenciado em relação aos chamados "filmes de mar" daquela época. Enquanto a maioria dos grandes filmes que mostravam aventuras no oceano investiam em estórias sobre marinheiros e capitães valorosos, íntegros e heróis, "The Sea Wolf" aposta em um protagonista nada amistoso e nem charmoso, na realidade um sujeito considerado até mesmo asqueroso por todos os seus subordinados. A fita foi dirigida pelo grande mestre da sétima arte Michael Curtiz (1886 - 1962) que pouco mais de um ano depois iria dirigir sua maior obra prima, "Casablanca" com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, naquele que seria considerado um dos maiores filmes de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de abril de 2024

Assassina das Estradas - Parte 1

Cap. I - O Detetive
Cliford Atkins. Policial, 46 anos de idade. O aumento de peso denunciava que ele não estava mais preocupado em manter as aparências. Era um bom investigador de homicídios, mas já tinha entendido tudo, como as coisas funcionavam. Recentemente havia pego um figurão, filho de uma família rica da região de New Orleans. Gente envolvida em política. Não deu em nada. Ele foi absolvido pelo tribunal do júri. Algum jurado foi comprado? É possível que sim, mas Cliford não tinha como provar. Ele não queria se envolver no jogo sujo envolvendo juízes e políticos. Certamente sua carreira seria prejudicada dali em diante, afinal ele havia mexido com uma das famílias tradicionais da cidade. iriam dar o troco para ele, mais cedo ou mais tarde.

Assim seu telefone tocou logo pela manhã. Ele ainda estava de ressaca da noite anterior. Começar a segunda-feira logo atendendo a um caso de assassinato não estava bem em seus planos. Só que era trabalho e ele teria que seguir em frente. Um homem de meia idade havia sido encontrado em seu carro na estrada que ligava a Louisiana à Flórida. Dois tiros na altura do abdômen. A carteira com dinheiro fora roubada. Havia sinais de luta corporal dentro do carro. Clift pegou seu velho chapéu e foi para a estrada. Tinha que fazer as primeiras análises no local do crime.

Esse caso lhe lembrou outro que havia acontecido há 3 meses, ainda sem solução. Clift desconfiava que os dois crimes poderiam ter sido cometidos pela mesma pessoa. As vítimas e as circunstâncias do crime revelavam isso. Eram dois homens, entre 55 a 60 anos. Ambos tinham histórico de contratar prostitutas nas rodovias pelas quais passavam. Os dois foram mortos com tiros à queima roupa, sugerindo que o assassino (ou a assassina) entraram em seus carros e ficaram próximos suficientes para dar um tiro a pouca distância.

Isso fez Clift desconfiar que o homicida ou mais provavelmente a homicida fosse um ou uma profissional do sexo. Como os dois homens eram heterossexuais havia fortes suspeitas que eles pegaram algum mulher para se prostituir em seus carros. Algo havia dado errado. Em algum momento essa mulher reagiu aos avanços deles, puxou uma arma e os matou. Depois roubou tudo o que havia de valor dentro do carro de seus "clientes", ou seja, dinheiro, relógios, anéis, cartões de créditos, qualquer coisa. Clift no alto da experiência de sua profissão estava praticamente convencido que havia uma assassina à solta nas estradas.

Ao retornar para a delegacia, o bom e velho detetive Cliford Atkins resumiu o caso em sua cabeça. Para ele uma pessoa havia entrado no carro da vítima. Provavelmente entrou sem reação violenta, o que significava que o criminoso contava com a confiança da vítima. Dentro do carro eles foram para uma estrada mais remota, onde poderiam fazer sexo. Partindo do pressuposto de que as vítimas eram homens heterossexuais só havia a quase certeza que era uma assassina, um prostituta a principal suspeita. Porém havia algo que não se encaixava no caso montado em sua mente. Mulheres raramente usam de métodos violentos para cometerem crimes. Mulheres geralmente matam com venenos, coisas assim. Elas detestam sangue e bagunça na cena do crime. De qualquer forma as cartas agora estavam sobre a mesa...

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

O Segredo dos Incas

O aventureiro Harry Steele (Charlton Heston) decide liderar uma expedição nos confins da floresta amazônica, região do Peru, para tentar localizar uma lendária fortuna proveniente de um tesouro dos tempos dos incas. A lenda afirma que o lugar tem montanhas de ouro e pedras preciosas das mais diversas e ele está pronto para enfrentar os maiores desafios e aventuras para localizar o tal tesouro lendário. Lendo a sinopse já dá para entender que estamos na presença de mais um filme que explora o velho mito do El Dorado, algo que despertou a cobiça de milhares de homens desde que os primeiros europeus chegaram no chamado novo mundo, as novas terras descobertas pelos capitães dos navios das grandes navegações.

Muitos morreram na selva tentando encontrar esses tesouros. Foram tragados pelos doenças, animais selvagens e pelo próprio ambiente de selva que é para poucos realmente. Esse filme, embora recheado de clichês por todos os lados em seu roteiro, até que é agradável, muito bem produzido. Além de Heston no elenco ainda há o destaque da presença da atriz Nicole Maurey que interpreta o par romântico do galã. Naquela época era comum esse tipo de situação, um certo romantismo no ar, uma certa tensão sexual, ainda que a história do filme se passasse no meio de uma floresta tropical.

O Segredo dos Incas
(Secret of the Incas, Estados Unidos, 1954) Direção: Jerry Hopper / Roteiro: Ranald MacDougall, Sydney Boehm / Elenco: Charlton Heston, Robert Young, Nicole Maurey/ Sinopse: Um avenureiro americano parte em busca de um tesouro lendário dos incas que estaria escondido há séculos no meio da floresta amazônica peruana

Pablo Aluísio.