segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Filmografia de Marlon Brando - Parte 1

Filmografia de Marlon Brando - Parte 1
Quando Brando foi expulso da escola militar por indisciplina, ele resolveu voltar para a casa dos pais. Não demorou muito para que o tempo fechasse sobre ele, até porque seu pai era muito rígido e ver o filho fracassar assim nos estudos era demais para o velho. Por essa época a irmã de Marlon, Jocelyn Brando, tentava vencer como atriz em Nova Iorque. Não era fácil. Havia muitos atores e atrizes desempregadas e os papéis, quando surgiam, eram muito disputados. Ela era uma jovem bem talentosa e até bonita, algo que sempre era levado em conta na época, porém os trabalhos eram escassos. Não era um futuro promissor, como ela bem deixou claro para uma carta enviada ao irmão que estava morando com seus pais em Omaha.

Marlon Brando logo pressentiu que não havia nenhum futuro para ele em sua cidade no meio oeste, já que os empregos que existiam para jovens de sua idade eram horríveis, duros e mal remunerados. Assim ele tomou sua decisão. Entre ser desempregado ou subempregado no Nebraska ou ser desempregado em Nova Iorque, tentando uma carreira como ator, a melhor opção era seguramente a segunda. Informou aos seus desiludidos pais que iria para Nova York atrás de sua querida irmã e que uma vez lá tentaria arranjar algum meio de vida. Na época havia um preconceito contra homens atuando, pois isso era considerado um meio de vida em que apenas homossexuais trabalhavam. Para Marlon Brando essa era uma visão preconceituosa e babaca e ele não daria atenção a essas pessoas que pensavam desse jeito. Ele achava sinceramente que tinha algum talento para ser ator. Já havia se dado bem em peças escolares antes. Como não tinha nada a perder, só a ganhar, pegou o primeiro trem para Nova Iorque no dia seguinte.  

Os primeiros dias de Brando foram lembrados por ele em sua autobiografia. Marlon, que era um garoto do meio oeste dos Estados Unidos, obviamente ficou fascinado pela grande metrópole com seus prédios enormes e o grande movimento de pessoas por todos os lados. No começo Brando ficou um pouco inibido pelo gigantismo daquele lugar, mas não tardou muito a começar a amar aquela cidade de amplas possibilidades. Começou trabalhando em empregos eventuais e ao mesmo tempo deu início aos seus estudos de arte dramática. Nesse meio tempo seu pai lhe escreveu para avisar que ele poderia voltar para casa, pois a academia militar de Shattuck havia reconsiderado sua expulsão e o aceitaria de volta aos bancos escolares. Brando disse "não"! Ele jamais tencionaria retornar para aquele lugar, afinal ele odiava disciplina militar e estava amando a liberdade que agora desfrutava em Nova Iorque. Entre ser um oficial do exército e ser um ator ele preferia muito mais a segunda escolha.

Assim que arranjou algum dinheiro, trabalhando como mensageiro de hotel e garçom, Brando comprou uma moto de segunda mão. Com ela poderia ir aos testes de peças de teatro, às aulas de arte dramática ou simplesmente sair pelas ruas e bairros da "big apple" para passear. Brando adorava a noite e por essa época, não raras vezes, resolvia dormir em qualquer parque bonito que encontrasse pela frente. Como ele bem relembrou em seu livro, naqueles tempos não havia violência urbana e ninguém o incomodaria se resolvesse dormir debaixo de uma árvore e tampouco alguém iria tentar roubar sua moto enquanto estava tirando uma soneca. Para aguentar o frio Brando comprou uma jaqueta negra do mesmo tipo que pilotos de avião usavam. Também começou a colocar jornais dentro do casaco para espantar o frio - um velho truque que aprendera com vagabundos quando certa ocasião se aventurou a atravessar os Estados Unidos em vagões de trem de carga.

Assim a vida lhe parecia sorrir. Ao contrário de sua irmã, Brando não fazia de seu sucesso na carreira de ator uma obsessão. Ele queria vencer, é claro, mas caso nada disso desse certo, ele poderia viver com qualquer outro trabalho que estivesse à disposição na cidade. Sua sorte porém mudou rapidamente e Brando começou a ganhar alguns pequenos papéis em peças de teatro off-broadway. O cachê era fraco, mas só o fato dele ganhar dinheiro atuando já era uma conquista e tanto. E as coisas melhoraram ainda mais quando soube que havia passado no teste para entrar na prestigiada escola de atores do Actors Studio. Ele não sabia, mas sua vida estava prestes a mudar para sempre.

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de janeiro de 2024

Disque M Para Matar

Esse filme é outro clássico do mestre do suspense Alfred Hitchcock. Ele criou um excelente clima com um enredo relativamente até bem simples. Na trama temos a figura de Margot Mary Wendice (Grace Kelly). Ela é uma jovem esposa que começa a se decepcionar com seu casamento. A rotina e o tédio acabam destruindo suas esperanças de viver um matrimônio feliz. Após longos anos de união, ela começa a ter um caso amoroso extraconjugal com um grande amor de seu passado, o escritor de romances policiais Mark Halliday (Robert Cummings). Ambos estão muito apaixonados e começam a trocar cartas de amor. Eventualmente uma delas vai parar nas mãos do marido traído, Tony (Ray Milland).

Fingindo não saber de absolutamente nada, ele então planeja uma forma de matar a esposa infiel para de quebra se tornar o único herdeiro de sua fortuna. Para colocar em prática sua artimanha criminosa, resolve chantagear um antigo colega de universidade, Swan (Anthony Dawson), que agora vive de explorar mulheres idosas, ricas e solitárias. Enquanto se garante com um álibi, em um evento social, seu comparsa deve entrar em sua casa para asfixiar sua esposa, tentando passar a ideia de que tudo foi apenas um roubo mal sucedido. No começo tudo ocorre bem até que algo acaba não saindo como havia sido inicialmente planejado.

Que Alfred Hitchcock foi um dos grandes gênios do cinema ninguém mais duvida. O diretor tinha um talento incomum para contar enredos sórdidos de uma maneira toda especial. Na superfície, seus personagens viviam em uma espécie de conto de fadas moderno, onde todos eram ricos, felizes e bonitos. Por debaixo dessa aparente normalidade se escondia os mais terríveis sentimentos mesquinhos. Veja o caso do casal formado por Mary (Kelly) e Tony (Milland). Ela é uma bem sucedida mulher, loira e linda, que não desperta suspeitas. Todos pensam ser a esposa ideal. Ele é um ex-tenista, agora aposentado, que se diz muito feliz em se dedicar completamente à esposa e seus caprichos. Um casal realmente perfeito a admirável. Isso é o que a sociedade pensa ser a verdade.

Por debaixo de tudo se esconde uma mulher infeliz com seu casamento de fachada, a ponto de nutrir um amor secreto e inconfessável. Na verdade ela não sente nenhum carinho ou afeição pelo marido e morre mesmo de amores por um antigo amor, um escritor de tramas policiais. Como não pode assumir esse seu sentimento proibido publicamente, começa a ter encontros escondidos com o amante. O marido, que sempre aparentou ser um homem muito educado e fino, um verdadeiro gentleman, acaba descobrindo a traição de sua jovem esposa, mas ao invés de se divorciar em um escandaloso rompimento perante a sociedade ele resolve ir por um caminho mais sutil e... fatal. Ele entra em contato com um antigo conhecido da universidade, um sujeito que não conseguiu se dar bem na vida, vivendo de pequenos e grandes golpes, explorando mulheres velhas e ricas. Um verdadeiro escroque.

A intenção é clara, o sujeito deve matar sua esposa infiel, em sua própria casa, enquanto ele, o marido, surge numa festa, na frente de todos, o que o livraria de uma eventual acusação de tê-la matado. Para atrair ela até um quarto escuro de sua casa, onde o assassino cometerá o crime, Tony usa o telefone. Assim que Margot o atender deverá ser assassinada. Aqui Hitchcock expõe todos os detalhes do plano e depois dos acontecimentos que vão surgindo em decorrência de vários imprevistos. O personagem Tony (Ray Milland) é extremamente inteligente e consegue armar contra todos, inclusive enganando os experientes inspetores da polícia. Tudo acaba caminhando muito bem, mesmo que por linhas tortas, até um pequeno, quase invisível detalhe, colocar tudo a perder. Esse roteiro pode ser descrito como um intrigado caso criminal, baseado muitas vezes em um tipo de suspense mais intelectual, apelando quase sempre para a perspicácia do espectador, que deve ficar bem atento para não perder nenhum detalhe. Nesse aspecto é certamente um dos grandes filmes da carreira do mestre. É um clássico absoluto do suspense na história da sétima arte.

Disque M Para Matar (Dial M for Murder, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Warner Bros / Direção: Alfred Hitchcock /Roteiro: Frederick Knott / Elenco: Grace Kelly, Ray Milland, Robert Cummings, John Williams, Anthony Dawson / Sinopse: Marido planeja matar a esposa infiel contando com a colaboração de um amigo. Tudo é minuciosamente planejado. Porém dar certo como previsto já seria uma outra história completamente diferente. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Atriz (Grace Kelly).

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

A Jovem que Tinha Tudo

Título no Brasil: A Jovem que Tinha Tudo
Título Original: The Girl Who Had Everything
Ano de Lançamento: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Richard Thorpe
Roteiro: Art Cohn, Adela Rogers St. Johns
Elenco: Elizabeth Taylor, Fernando Lamas, William Powell, Gig Young, James Whitmore, Robert Burton

Sinopse:
Jean Latimer (Elizabeth Taylor) é uma jovem rica e privilegiada, filha de um renomado advogado de Los Angeles, que resolve dar um passo bem errado em sua vida. Ela se envolve com um criminoso, o gangster Victor Y. Ramondi (Lamas), que é inclusive cliente de seu próprio pai. O romance proibido terá sérias consequências para todos os envolvidos.  

Comentários:
Nesse filme Elizabeth Taylor chocou Hollywood pela coragem de interpretar esse papel, considerado muito escandaloso para a época. E foi um passo ousado porque nos anos 50 ela era considerada uma estrela adolescente, admirada pelas jovens americanas em idade escolar. Por essa razão o filme quase esbarrou no código de moralidade que os estúdios seguiam naqueles tempos de conservadorismo hipócrita. Um fato curioso é que até mesmo uma cena na piscina, com Liz e Lamas em trajes sensuais, teve que sofrer autocensura por parte da MGM por ter sido considerado sexualmente "atrevido" demais! Vejam que coisa tola! E o filme nada mais era do que um remake de uma antiga produção estrelada por Clark Gable. Ou seja, o que era aceito antes de forma natural agora passava por uma série de problemas de ordem moral para chegar nas telas. Prova que a Hollywood dos anos 30 e 40 era muito mais ousada e livre do que a dos anos 50. Por fim vale a citação de que o diretor Richard Thorpe iria dirigir, pouco tempo depois, outro ídolo jovem polêmico dos anos 50 no filme "O Prisioneiro do Rock". O nome do rapaz? Sim, ele mesmo, Elvis Presley! 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Como Agarrar um Milionário

Curioso como o tempo muda os costumes (ou não). Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida. O filme foi feito antes da revolução feminista e as garotas são desesperadas para arranjar logo um milionário. O mais curioso de tudo é que mesmo após a luta das feministas, muitas mulheres hoje em dia agem igualzinho às protagonistas desse filme que está prestes a completar 60 anos de seu lançamento. Parece que o mundo não mudou tanto assim depois de todo esse tempo! Tirando esse viés machista o roteiro escrito por Nunnally Johnson, um dos melhores roteiristas da história de Hollywood, tem um timing de bom humor muito afiado e divertido. Na moralista década de 50 nada poderia ser explicitamente mostrado então tudo era sutilmente sugerido. Até mesmo objetos de cena servem para materializar a ironia de certas situações. O texto é nitidamente uma comédia de costumes, pois ao mesmo tempo expõe e satiriza a condição das garotas no filme.

Estrelado por três atrizes o filme hoje é mais procurado por causa da presença de Marilyn Monroe em cena. Sua personagem não é a principal (lugar que cabe à mulher de Humphrey Bogart, Lauren Bacall) mas ela claramente chama todas as atenções para si. Bastante jovem, Marilyn faz um tipo cômico, uma garota bonita que não consegue enxergar um palmo à frente do rosto. No livro "A Deusa" há uma hilária passagem em que Marilyn procura o diretor do filme, Jean Negulesco, para lhe fazer mil perguntas sobre sua personagem, quais seriam suas motivações, seu perfil psicológico, etc. Monroe estava cada vez mais interessada no método do Actors Studio e por isso procurava desenvolver bem seus papéis. Surpreso pelo verdadeiro "interrogatório" Negulesco interrompeu a conversa dizendo: "Querida essa é uma simples comédia apenas e tudo o que você precisa saber de seu personagem é que ela é loira, burra e cega como um morcego!". Monroe obviamente não gostou nada da resposta! Já Bacall faz a mais velha das três, uma desiludida divorciada que quer tirar o pé da lama arranjando logo um maridão rico para resolver seus problemas financeiros. Completa o trio a atriz Betty Gable. Com um penteado pra lá de esquisito em relação aos padrões atuais, ela não acrescenta muito em seu papel de dondoca. Não era uma atriz particularmente engraçada ou carismática. O filme como diversão é muito bom, embora bem menos ousado que muitos dos futuros filmes de Marilyn. Como ponto negativo não tem nenhum número musical com a atriz, embora a trilha sonora seja ótima.

Como Agarrar Um Milionário (How to Marry a Millionaire, Estados Unidos, 1953) Direção: Jean Negulesco / Roteiro: Nunnally Johnson baseado na peça de Zoe Akins / Elenco: Lauren Bacall, Marilyn Monroe, Betty Grable / Sinopse: Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Dentro da Noite

Título no Brasil: Dentro da Noite
Título Original: They Drive By Night
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Raoul Walsh
Roteiro: Jerry Wald, Richard Macaulay
Elenco: George Raft, Ann Sheridan, Ida Lupino, Humphrey Bogart, Gale Page, Alan Hale

Sinopse:
Os atores George Raft, Humphrey Bogart e Alan Hale interpretam motoristas de caminhão que carregam frutas e legumes para supermercados da cidade. Enquanto Raft envolve-se com a mulher (Lupino) do patrão, Bogart e Hale envolvem-se numa trama perigosa.

Comentários:
Um show de interpretação de Ida Lupino... Nas décadas de 30, 40 e 50 Hollywood fazia esse tipo de filme aos borbotões. Nesse em especial e com o ótimo Raoul Walsh na direção, a história gira em torno da vida de um grupo de caminhoneiros, seus dramas, o perigo das estradas, as noites viradas sem dormir e suas dívidas com os caminhões e com as cargas. George Raft e Humphrey Bogart são dois irmãos caminhoneiros que trabalham para um patrão déspota e desonesto. Paralelamente os dois também lutam para acabar de pagar o caminhão em que trabalham. No entanto a virada na vida dos dois estava próxima. Raft, por acaso, reencontra um velho amigo caminhoneiro que se transformara num rico empresário. O problema é que a mulher do empresário (Lupino) foi seu grande amor no passado. E depois de reencontrar o seu ex-grande amor, Lupino não vai deixar escapa-lo, nem que para isso ela tenha que dar um fim em seu casamento de fachada. Nota 8

Telmo Vilela Jr.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Os Dez Mandamentos

Considerado até hoje um dos maiores épicos da história de Hollywood. Essa superprodução foi fruto do empenho pessoal do produtor e diretor Cecil B. DeMille. Conhecido por pensar grande, para alguns sofria de uma certa megalomania, ele tinha verdadeira obsessão pelas histórias do velho testamento. Era um dos vários magnatas judeus da indústria cinematográfica americana. Ele já havia produzido uma versão de Moisés na era do cinema mudo, mas resolveu fazer o remake de sua própria obra, com mais tecnologia e recursos do cinema dos anos 50. Para isso ele não poupou recursos, inclusive se utilizando de diversas técnicas de efeitos especiais, sendo que o filme, apesar de ser indicado oito vezes ao Oscar, acabou vencendo apenas em uma categoria, justamente a de efeitos visuais. O filme também se notabilizou pelo visual, maquiagem, figurino e demais aspectos de produção, que foi obviamente milionária.

O resultado certamente soa grandioso na tela, não apenas pelos exageros de cenários, figurinos, etc, mas também pela longa duração do filme, o que assustou um pouco os donos de cinema da época, pois eles acreditavam que isso iria ser prejudicial nas bilheterias. Não foi, "Os Dez Mandamentos" se tornou uma das maiores bilheterias da época e acabou abrindo caminho para outras megaproduções que seguiam na mesma linha. Para o ator Charlton Heston esse clássico foi um divisor de águas pois interpretar Móises marcou para sempre sua carreira. Enfim, um dos filmes que melhor captaram o que Hollywood poderia fazer de melhor naquele período histórico.

Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, Estados Unidos, 1956) Direção: Cecil B. DeMille / Roteiro: Dorothy Clarke, A.E. Southon / Elenco: Charlton Heston, Yul Brynner, Anne Baxter / Sinopse: O filme conta a história de Moisés (Heston), líder religioso e político do povo hebreu que liderou sua saída do Egito, onde viveram como escravos por longos anos. Filme premiado com o Oscar na categoria de melhores efeitos especiais (John P. Fulton).

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

A Um Passo da Eternidade

O soldado Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Clift) é transferido para uma base militar no Havaí após ter alguns problemas com oficiais no quartel onde servia. Lá ele fica sob o comando do Sargento Milton Warden (Burt Lancaster). Prewitt tem fama de bom boxeador, mas não quer voltar aos ringues. Como o Comandante do grupo é fã do esporte ele tenta convencer o soldado a lutar de qualquer jeito ao lhe impor uma rígida disciplina militar. Seu objetivo é forçar Previtt a lutar na competição militar, mas ele resiste bravamente. Nesse ínterim, o Sargento Milton decide começar um caso extraconjugal com a bela Karen Holmes (Deborah Kerr); O problema é que ela é a esposa de seu Capitão!

"A Um Passo da Eternidade" é um dos clássicos mais famosos da história do cinema americano. O que o distingue dos demais filmes de guerra da época é que o roteiro do filme procura desenvolver o máximo possível o aspecto mais humano dos personagens em cena. O papel de Clift é um exemplo. Ele é um novato que sofre todos os tipos de humilhações dentro da base. Mesmo assim resiste ás provocações para demonstrar seu ponto de vista. Ao se envolver com a dançarina de cabaré Lorene Burke (Donna Reed) ele procura acima de tudo uma redenção em sua vida, algo que valha a pena lutar. O enredo gira em torno dele, mas o filme não se resume a isso pois tem como pano de fundo o grande ataque japonês ao porto americano de Pearl Harbor, fato que ocasionou a entrada dos EUA na II Guerra Mundial. O argumento assim tenta dar um rosto e uma história para os milhares de militares americanos que estavam no Havaí nesse grande bombardeio das forças do império japonês.

Baseado no romance best-seller de James Jones, "A Um Passo da Eternidade" é, em essência, um filme sobre relacionamentos humanos, paixões, rivalidades nas vésperas de um dos maiores acontecimentos da história norte-americana. Além do filme em si ser um marco, a produção ficou conhecida também por várias histórias de bastidores. Uma das mais conhecidas envolveu o cantor Frank Sinatra. Na época ele estava em um péssimo momento na carreira. Após ter um problema vocal suas vendas despencaram e assim Sinatra ficou sem muitas alternativas. Ao descobrir que a Columbia faria "A um Passo da Eternidade" resolveu lutar pelo papel de Angelo Maggio, um soldado boa praça que é vítima de um guarda sádico (interpretado pelo sempre ótimo Ernest Borgnine). O drama para Sinatra começou quando o diretor Fred Zinnemann o recusou para o filme. Segundo afirmam alguns livros o chefão mafioso Sam Giancana, atendendo a um pedido desesperado de Sinatra, colocou Zinnemann contra a parede para que ele escalasse o cantor em decadência. O fato acabou sendo utilizado em "O Poderoso Chefão" em uma cena em que um cantor italiano pede ajuda a Don Vito Corleone para que ele fosse escalado para um filme importante.  A cena é impactante quando uma cabeça de cavalo decepada é colocada ao lado da cama de um cineasta famoso.

De qualquer modo, seja lá como entrou no filme, o fato é que Sinatra conseguiu voltar ao auge. Ele venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua atuação e o filme acabou se tornando o grande premiado de seu ano, levando para casa ainda mais sete prêmios. Uma consagração praticamente completa na mais prestigiada premiação do cinema mundial. Burt Lancaster também foi indicado ao Oscar de melhor ator, mas não venceu. Havia um certo preconceito contra ele, por ser um astro de filmes de ação e aventura na época. Já Montgomery Clift foi completamente esquecido em mais uma daquelas famosas injustiças da Academia. A consolação para Lancaster veio pelo fato de ter feito a cena mais famosa de sua carreira, quando beija Deborah Kerr na beira da praia. Um momento considerado extremamente ousado para a época, com sensualidade à flor da pele.

A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, Estados Unidos, 1953) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Daniel Taradash baseado no romance de James Jones / Elenco: Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Frank Sinatra, Donna Reed, Ernest Borgnine, Philip Ober / Sinopse: Nas vésperas do ataque japonês à base de Pearl Harbor, fato que levou os Estados Unidos a entrarem na II Guerra Mundial, um grupo de soldados vivem seus dramas pessoais em um regimento do Havaí. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (Fred Zinnemann), Melhor Roteiro (Daniel Taradash), Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Melhor Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Melhor Fotografia em Preto e Branco (Burnett Guffey), Melhor Som (John P. Livadary) e Melhor Edição (William A. Lyon). Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção (Fred Zinnemann) e Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra),  

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

A Espada de Damasco

Aventura das mil e uma noites produzida pelos estúdios Universal. Aqui não há grande segredo. A Universal realizava esse tipo de filme para as matinês, para um público jovem que frequentava o cinema no período matutino. Os filmes eram produções B, de baixo orçamento, com excesso de princesas, lutas de capa e espada e muita fantasia. Tudo isso se pode encontrar em "A Espada de Damasco". Na história Rock Hudson interpreta um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível.

Não há como negar que esse tipo de produção soa totalmente datada nos dias de hoje. Nada é muito bem cuidado em termos de cenário, figurino, roteiro e diálogos. Tudo aparenta ser bem falso, filmado com pouco dinheiro no quintal dos estúdios Universal. É um tipo de aventura ligeira que hoje em dia aparente ser por demais inocente e até sem muito nexo. Em um produção infanto juvenil como essa "A Espada de Damasco" pouco coisa é ainda relevante nos dias de hoje mas gostaria de destacar o trabalho da simpática atriz Piper Laurie que empresta muito carisma ao resultado final. Fazendo uma princesa pouco convencional ela mantém o mínimo interesse em um argumento de teatro infantil. Em suma "A Espada de Damasco" não se sustenta nos dias de hoje, envelheceu e se tornou obsoleto. Só vale mesmo pela curiosidade de conhecer como eram os filmes das "Mil e Uma Noites" da Universal na década de 1950. Aqui realmente apenas a nostalgia e o saudosismo salvam o filme em uma revisão atual. O resto está ultrapassado pelo tempo.

A Espada de Damasco (The Golden Blade, EUA, 1953) Direção: Nathan Juran / Roteiro: John Rich / Elenco: Rock Hudson, Piper Laurie, Gene Evans / Sinopse: Na história Harun (Rock Hudson) é um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Famintas de Amor

Título no Brasil: Famintas de Amor
Título Original: Until They Sail
Ano de Lançamento: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Robert Wise
Roteiro: Robert Anderson, James A. Michener
Elenco: Paul Newman, Joan Fontaine, Jean Simmons, Sandra Dee, Piper Laurie, Charles Drake

Sinopse:
Esse filme mostra o drama vivido por um grupo de mulheres que mora na Nova Zelândia após o começo da Segunda Guerra Mundial. Os homens da vila onde moram vão para a guerra e elas ficam sozinhas. Então quando um batalhão das forças armadas dos Estados Unidos chega na região começa uma série de relacionamentos entre elas e os militares estrangeiros. Algo não permitido pelo alto comando das forças militares. 

Comentários:
Bom filme romântico da década de 1950. O ator Paul Newman interpreta esse militar norte-americano que vai parar na distante Nova Zelândia durante a II Guerra Mundial. Ali ele conhece a realidade de três irmãs, todas solitárias, lutando pela vida. Claro que acaba se relacionando com uma delas, mas isso traz problemas. Havia certos regulamentos dentro das forças armadas dos Estados Unidos que impedia esse tipo de relacionamento amoroso entre os soldados e oficiais com a população local. De certa maneira o filme tem semelhanças com "Sayonara" de Marlon Brando, sendo esse passado no Japão. O elenco também é muito bom, com destaque para a jovem adolescente Sandra Dee interpretando a mais jovem das irmãs e do próprio Paul Newman, aqui interpretando um sujeito meio indeciso, inseguro. Ele não consegue decidir se vai mesmo entrar fundo naquele romance. Enfim, bom filme, deixo a minha recomendação. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Vidas em Fuga

Valentine 'Snakeskin' Xavier (Marlon Brando) é um músico errante de New Orleans que chega numa pequena cidade do sul dos EUA em busca de trabalho. Ele havia sido expulso da última localidade por onde passou acusado de roubo, desordem e vadiagem. Ao procurar por emprego acaba parando numa pequena loja de roupas local. Lá conhece Lady (Anna Magnani) esposa do proprietário, um homem com problemas de saúde. Sozinha, carente e frustrada ela acaba se aproximando de "Snakeskin" cada vez mais. "Vidas em Fuga" foi baseado na peça "Orpheus Descending" que nada mais é do que uma releitura de Tennessee Williams para o famoso clássico Orfeu e Eurídice. Toda a estrutura da peça original está lá. A mulher reprimida e infeliz, o marido desprezível e o amante sedutor, mas perigoso. Williams transporta a trama para o sul racista americano, onde novamente a hipocrisia da sociedade é colocada em evidência. Embaixo de uma superfície de moralidade há uma sordidez latente, bem ao estilo do que realmente imperava nessas pequenas cidades.

O elenco está brilhante. Brando curiosamente está contido. Seu Val "Snakeskin" Xavier é em essência um espectador privilegiado dos acontecimentos. Sua presença sensual e provocadora logo desperta o que há de pior entre os moradores da cidade. Irresistivel para as mulheres e odiado pelos homens, sua persona parece ter sido levemente inspirada em michês que passaram pela vida de Tennessee Williams. É o típico caso do sujeito sem profissão definida, que viaja de cidade em cidade em busca de uma melhor sorte. Para tanto usa de sua beleza para alcançar dinheiro e posição, muitas vezes praticando pequenos delitos no caminho. Já Anna Magnani, com forte sotaque italiano, também esbanja boa atuação. Não deixa de ser curioso o fato dela ter perseguido Brando no set de filmagem em busca de um envolvimento amoroso. Como relatado em sua autobiografia, Marlon descreveu o assédio de Anna como uma busca pela juventude perdida. Com a idade chegando a atriz procurava se envolver cada vez mais com jovens, numa triste metáfora com sua própria personagem no filme. Após várias tentativas frustradas Brando a dispensou discretamente. Ele não tinha qualquer interesse nela, exceto em nível puramente profissional. Os problemas entre os atores nos bastidores porém não prejudicou o resultado final do filme. Brando e Magnani estão perfeitos em seus respectivos papéis. Outro destaque digno de nota é a boa atuação de Joanne Woodward. Na pele de uma personagem complicada que facilmente poderia desandar para a caricatura, Joanne se mostra adequada e talentosa na medida certa. Enfim, nada melhor do que conferir mais uma produção que une Tennessee Williams e Marlon Brando. Não chega a ser tão marcante como "Um Bonde Chamado Desejo" mas mantém o alto nível. O resultado final é excelente.

Vidas em Fuga (The Fugitive Kind, Estados Unidos, 1960) Direção: Sidney Lumet / Roteiro: Meade Roberts adaptado da peça "Orpheus Descending" de Tenneesse Williams / Elenco: Marlon Brando, Anna Magnani, Joanne Woodward e Maureen Stapleton / Sinopse: Valentine Xavier (Marlon Brando) é um artista de New Orleans que vive tocando entre um lugar e outro, até decidir se instalar em uma pequena cidade entre New Orleans e Memphis. Enquanto o passado de Valentine vem à tona, ele se envolve com uma excêntrica mulher casada.

Pablo Aluísio.